Consórcio x Investimento para a Compra de Bens

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Hoje vamos reciclar! Este artigo foi originalmente escrito para a coluna “Consultório Financeiro” que o IBCPF mantém em parceria com o jornal Valor Econômico, e foi publicado pelo jornal em 28/03/2011, gerando alguma polêmica na época. Porém essa é a forma como eu enxergo a questão do Consórcio. Olhando pelo ponto de vista de gestão das Finanças Pessoais, é mais barato fazer a reserva financeira e comprar o bem sozinho, sem pagar os custos de um consórcio, mas algumas pessoas têm o ponto de vista de que o comprometimento com o contrato de um consórcio pode ajudar na questão de ter disciplina para guardar o dinheiro para comprar um bem. Se você acha que não têm a força de vontade para fazer sozinho, talvez para você o consórcio possa ser um bom negócio.

Vamos ao texto, publicado originalmente com o título “O consórcio e o investimento para a compra de bens”:

Trabalho em um grupo que tem uma administradora de consórcio e para funcionários a taxa de administração é metade do preço do mercado. Ex. o consórcio de um carro no mercado você paga no total entre taxa de adm e seguro prestamista em média 20% e para funcionários a gente paga só 10%. Eu gostaria de uma opinião a respeito desse investimento, pode-se considerar uma forma inteligente de fazer poupança????

E além desse consórcio de carro que quero entrar eu também tenho um outro consórcio de imóvel da mesma forma para funcionários. G.N.C.F.

Prezado leitor, independente do custo do consórcio, se o seu objetivo é fazer poupança, você deve procurar outro tipo de investimento. O consórcio não é um investimento, sua finalidade é a aquisição de um bem. Entenda que no consórcio você paga juros para adquirir um bem que deprecia, no caso do veículo, ou que pode se apreciar, no caso do imóvel.

Se o seu objetivo é a aquisição de um veículo ou de um imóvel, você pode até pensar na possibilidade de fazer o consórcio, mas antes se lembre das formas de saída: no consórcio você só receberá o bem se e quando for sorteado (um evento que depende da quantidade de consorciados envolvidos) ou se fizer um aporte de valor elevado para quitar o valor do bem a ser adquirido através do consórcio.

Se o seu objetivo é criar uma reserva financeira (poupança), você deve criar a disciplina de poupar. Você pode determinar um valor em Reais ou um percentual sobre o seu salário e guardá-lo todos os meses. É importante guardar o dinheiro logo que você recebe seu salário, para que ele não fique na conta corrente e acabe sendo gasto em outras coisas durante o mês. Iniciada a sua poupança, você deve pensar onde investi-la. Enquanto estiver no período de acumulação dos primeiros Reais de sua reserva financeira, você pode investir na Poupança, que é isenta de imposto de renda, e deve, no mínimo, corrigir o valor da inflação através da TR (o indexador que determina a correção da taxa de pagamento da poupança).

Depois que tiver acumulado algum dinheiro e juntado valores acima de R$5.000,00 ou R$10.000,00, você pode avaliar os fundos de investimento disponíveis no seu banco e avaliar se vale a pena migrar sua poupança para algum deles. Para isso considere o valor de entrada no fundo, a taxa de administração, o valor de movimentação, o valor de permanência, o tipo de fundo e a liquidez (em quantos dias ele paga o resgate). Neste momento ainda é mais recomendado permanecer em um fundo de renda fixa ou indexado ao CDI que são mais conservadores. Estes produtos têm IR semestral sobre o valor do fundo (come-cotas) e IR regressivo sobre o saque, que varia de 22,5% a 15% conforme o período de permanência.

Quando você formar uma reserva financeira maior, deve pensar em diversificar seus investimentos para proteger o valor guardado e também para buscar uma rentabilidade maior. Considere sempre o período em que irá precisar dispor do dinheiro (que é o período que você terá para esperar o investimento maturar) e o risco envolvido em cada produto financeiro, para escolher os investimentos que melhor se adéquam a sua tolerância à volatilidade do mercado financeiro.

Quando seu objetivo for adquirir um bem, você poderá usar sua poupança para comprar à vista e negociar um desconto. Já se essa for uma necessidade imediata, deve comparar o custo do consórcio com o custo de um financiamento. Notando que no financiamento você terá o bem na hora e pagará a dívida durante o período contratado e que no consórcio você terá a dívida e não saberá ao certo quando terá o bem.

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Em resumo: consórcio é jogo, você precisa contar a parcela de sorte para ser contemplado, ou ter o dinheiro para fazer o lance, que na maioria das vezes as pessoas que fazem um consórcio não têm, se não já teriam dado o valor como entrada em um financiamento.

Tudo depende do fator tempo:

1️. Se você quer ter o bem hoje, vale mais a pena fazer um financiamento, sabendo que você pagará 2 vezes o preço do bem, porque o custo do dinheiro que você pagará na forma de juros será quase igual ao valor do bem;

2️. Se você tem tempo para esperar para consumir o bem, vale mais a pena fazer a sua reserva financeira sozinho e contar com a valorização dos seus investimentos para ajudá-lo a comprar o bem de forma mais barata;

3️. Se você não se importa com o fator tempo, e gosta da ideia de contar com o fator sorte para receber o bem hoje ou no futuro, e você não tem disciplina para fazer a sua reserva financeira sozinho, vale a pena fazer um contrato de consórcio, porque é uma boa forma de ativar o fator emocional de que se você não fizer o depósito do valor mensal do consórcio em alguns meses, você perde todo o dinheiro acumulado no contrato. A consciência de que você pode ser penalizado da pior forma ajuda a ter mais força de vontade e esforço para pagar as parcelas do contrato.

Sobre Lavínia Martins, CFP®

Fundadora da FLUXO Planejamento Financeiro, é planejadora financeira certificada com a Certificação CFP® desde Fev/2010. É autora do blog “Finanças Pessoais e outras coisas” e do Instagram @lavinia.martins.financas. Foi Diretora da Planejar, a Associação Brasileira de Planejamento Financeiro e entidade responsável pela Certificação CFP® no Brasil por 4 anos. Participou do Conselho de Regulação e Melhores Práticas para a Atividade de Gestão de Patrimônio Financeiro da ANBIMA, e do Comitê Consultivo de Educação da CVM, como representante da Planejar. Participou dos seminários do networking internacional de educação financeira da OCDE-INFE durante 6 anos. Foi professora de Finanças Pessoais da B3 Educação e da Idea9 por 2 anos. Foi sócia da FinPlan Consultoria e Gestão Financeira por 3 anos, e possui 20 anos de experiência no mercado financeiro, atuando com planejamento financeiro pessoal e gestão patrimonial, e antes disso trabalhou por 3 anos em finanças corporativas de multinacionais como Louis Dreyfus Commodities e Rohm & Haas Química. Graduada em Administração de Empresas pela PUC-SP, possui pós-graduação em Finanças pelo Insper, especialização em Gestão de Patrimônio Familiar na Columbia Business School, em Nova York, EUA, e é certificada com o ACE: Advanced Certificate for Executives in Management, Innovation, and Technology (Certificado Avançado para Executivos em Administração, Inovação e Tecnologia) no MIT – Massachusetts Institute of Technology, em Boston, EUA.
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