Vira e mexe aparece alguém perguntando a minha opinião sobre a taxa de performance cobrada por muitos fundos de investimento. Poucas vezes eu respondo sobre isso porque não gosto de gerar polêmica, mas acho que está na hora de discutirmos este assunto no Brasil.
Questiono muito o modelo de remuneração da taxa de performance adotado no mercado de fundos, porque o gestor cobra a taxa sobre o retorno que exceder a valorização do patrimônio do fundo em função do índice usado como referência, que muitas vezes não é o índice adequado ao mercado do fundo, e, após a cobrança, é marcada uma linha d’agua que serve como referência a partir de onde será cobrada a próxima taxa de performance. A questão é que se o fundo cai e perde patrimônio, o cotista já pagou a taxa de performance e foi prejudicado pela sua cobrança quando houve uma alteração na situação do mercado.
Exemplo: imagine os fundos que pagaram taxa de performance para os gestores em Jan/2020, referente ao crescimento do patrimônio de 2019, e depois tiveram uma MEGA perda de patrimônio a partir de Março/2020. O quotista foi prejudicado porque pagou por um valor que foi destruído ao longo dos meses seguintes, e que pode demorar para ser recuperado. Pior: se o cotista precisar resgatar o seu investimento neste fundo, jamais recuperará o valor perdido.
Sou totalmente contra a cobrança da taxa de performance. O gestor não está participando do risco junto com os quotistas, ele está se apropriando indevidamente de um valor irreal, como se fosse um sócio que recebe um adiantamento de pagamento da empresa, enquanto os outros sócios não fazem a mesma retirada e são prejudicados na distribuição de lucros. Acho que os fundos deveriam ter só taxa de administração e ponto. Taxa de Administração é a remuneração pelo serviço prestado, enquanto Taxa de Performance é roubo de valor.
O gestor que entrega valor deveria ganhar mais no volume, pelo aumento do montante sob custódia, através do crescimento do número de clientes (quotistas) e do aumento da quantidade de dinheiro desses clientes investido nos fundos, e não pela cobrança de performance.
Entregar resultado é a obrigação do gestor, é para isso que ele existe, é para isso que ele trabalha, e é para isso que é paga pela taxa de administração.
Performance é apropriação indevida de dinheiro alheio. É ganhar dinheiro em cima do dinheiro dos outros, como um imposto. A performance torna o gestor sócio do patrimônio do cliente. Sou totalmente contra a existência da taxa performance! Espero que um dia o regulador perceba isso e proíba a cobrança desta taxa que destrói patrimônio dos investidores e rouba “poupança popular”, transferindo riqueza para os gestores e agentes do mercado financeiro, em detrimento dos poupadores.